terça-feira, 5 de maio de 2015

RESENHA DO FILME: AS DUAS FACES DE UM CRIME




Sinopse e detalhes

Em Chicago, um arcebispo (Stanley Anderson) assassinado com 78 facadas. O crime choca a opinião pública e tudo indica que o assassino um jovem de 19 anos (Edward Norton), que foi preso com as roupas cobertas de sangue da vítima. No entanto, um ex-promotor (Richard Gere) que se tornou um advogado bem-sucedido se propõe a defendê-lo, sem cobrar honorários, tendo um motivo para isto: adora ser coberto pela mídia, além de ter uma incrível necessidade de vencer.

Dirigido por: Gregory Hoblit.

Elenco:
Richard Gere .... Martin Vail
Laura Linney .... Janet Venable
John Mahoney .... John Shaughnessy
Alfre Woodard .... Juíza Miriam Shoat
Frances McDormand .... Dra. Molly Arrington
Terry O'Quinn .... Bud Yancy
Andre Braugher .... Tommy Goodman
Steven Bauer .... Joey Pinero
Joe Spano .... Capitão Abel Stenner
Tony Plana .... Martinez
Stanley Anderson .... Arcebispo Richard Rushman
Maura Tierney .... Naomi Chance
Jon Seda .... Alex
Reg Rogers .... Jack Connerman
Edward Norton .... Aaron Stampler

Roteiro: Steve Shagan e Ann Biderman, baseado em romance de William Diehl.
Produção: Gary Lucchesi.


RESENHA

O filme nos narra a estória de um jovem de 19 anos chamado Aaron Stampler que se vê envolvido no assassinato do arcebispo de Chicago Richard Rushman, com 78 facadas, fato esse que o fez ficar conhecido como o “Carniceiro de São Miguel”. O ex- promotor e advogado criminalista mais famoso de Chicago, Martin Vail, aceita defender o Aaron para livrá-lo do corredor da morte. A promotora Janet Vanable emprega esforços para levá-lo ao corredor da morte, com a orientação do Juiz John Shaughnessy (cargo equivalente à procurador de justiça).
Vail é conhecido por convencer  com maestria os jurados em um tribunal, porém esse caso complica-se pelo fato do arcebispo Rushman ser uma figura pública e carismática. O que não se sabe é que o arcebispo esconde um lado reprovável pela sociedade em geral, o mesmo possui distúrbio pedofílico e realiza suas fantasias dirigindo atos sexuais entre jovens (coroinhas) acolhidos pelo mesmo.
Alegando que foi abandonado pelo seu pai, ter lapsos de memória e ser vítima de maus tratos, Aaron, desperta Roy, seu alter-ego, oposto a sua personalidade. Enquanto Aaron é tímido e inseguro, Roy tem voz firme, olhar ameaçador e postura corporal intimidadora. 
Após a descoberta do distúrbio pedofílico de Rushman, Vail fica receoso em divulgar a notícia e ter a reprovação do júri, envia o material à promotora para que a mesma tenha aborde o fato no tribunal, algo que facilitaria com que Vail convencesse o júri. A seu favor, Vail descobre que seu cliente é portador de Transtorno dissociativo de identidade, um distúrbio que faz com que o portador aflore múltiplas identidades (geralmente duas). Com essa prerrogativa, Vail pode requerer a internação de seu cliente perante os jurados, uma vez que o mesmo possui doença que tolhe o discernimento.
Nos instantes finais, já no julgamento de Aaron, pouco antes da abordagem da promotora, Martin Vail, atiça Aaron para que este movido pela forte emoção, emane seu alter-ego no momento da fala de Vanable. A estratégia acaba dando certo e Vanable ao questionar o réu o deixa ainda mais nervoso, fazendo com que Roy, saísse do alter-ego e aflorasse no ego de Aaron, comandando as ações agressivas do mesmo, perante a todos naquele recinto.
A estratégia dá certo e Aaron é livrado do corredor da morte. Porem ao visita-lo na prisão afim de dar a notícia, Vail tem uma surpresa desagradável. Aaron na verdade o manipulou o tempo inteiro e sua personalidade verdadeira era a que o mesmo chamava de Roy. Percebe-se pela atuação do Richard Gere que Vail fica sem chão com a descoberta e sente-se traído e assim termina a estória.
Um filme que prende nossos olhos e aguça nossos pensamentos como estudantes e futuros operadores do Direito, a respeito do Processo Penal.
O desenrolar do filme, traz de forma latente o princípio do contraditório e do livre convencimento do juiz contemplados em diversas cenas onde Vail e Vanable embatem-se com seus argumentos, provas, arrolo de testemunhas, laudos periciais, laudos psiquiátricos dentre outros, para provar à Juíza Miriam Shoat a inocência ou culpabilidade do réu.
Traçando um paralelo com a obra da Paula Bajer, a paridade das armas, mostra-se comprometida no fato, uma vez que o John Shaughnessy mantinha negócios financeiros com o arcebispo Rushman fazendo com que a promotora agisse com maior rigidez afim de condenar o acusado. Vail por outro lado, expõe a dificuldade de parear armas contra o Estado e seu aparato, uma vez que o mesmo usa investigador particular ou mesmo vai à cena do crime para verificar vestígios despercebidos.
A ética é importante salientar nessa estória, já que o advogado de defesa e a Promotora mantiveram um caso por seis meses (foro íntimo). Juiz Shaughnessy mantinha negócios de cunho financeiro com a vítima (suspeito). O próprio Vail havia se desentendido com Shaugnessy quando exercia o cargo de Promotor e por esse motivo o mesmo decidiu ser advogado de defesa.
Por último e mais importante, os argumentos usados durante tribunal, as falácias, os argumentos ad misericordian, discurso jurídico, a exordial, epidítico, lógico, tão bem abordados por Chaim Perelman em seu livro Tratado da argumentação que mostra a pedra fundamental do Direito: a arte de comunicar-se bem.

6 comentários:

  1. Excelente análise. Tanto para profissionais do Direito, quanto para mim, mera apreciadora de um bom filme. Parabéns!

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  2. Ótima resenha, parabéns e obrigado por compartilhar.

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  3. Por nada Francisco, sempre que precisar, estou a disposição!

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  4. Excelente filme, trama muito bem feita .
    Percebemos o outro lado da justiça. ⚖💰

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